Segunda semana da Quaresma
Palavra de vida eterna
A evangelização acontece na medida em que assumimos os critérios e os valores de Jesus Cristo, acolhendo Sua palavra. Durante esta semana, procure colocar em prática esta palavra, fazendo-se próximo das outras pessoas: “‘Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Respondeu o doutor: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai, e faze tu o mesmo’ ” (Lc 10,36-37).
Transfiguração
“As pessoas deficientes, revelando a fragilidade da condição humana, são uma expressão do drama do sofrimento, e, neste nosso mundo sequioso de prazeres e fascinado pela beleza efêmera e falaz, suas dificuldades muitas vezes são vistas como um escândalo e uma provocação, e seus problemas como um peso que se deve remover ou resolver apressadamente. Ao contrário, elas são ícones vivos do Filho crucificado. Revelam a beleza misteriosa dAquele que se despojou por nós e Se fez obediente até a morte. Mostram- nos que a consistência definitiva do ser humano, além de qualquer aparência, é posta em Jesus Cristo. Por isso, se disse oportunamente que as pessoas deficientes são testemunhas privilegiadas de humanidade. Podem ensinar a todos o que é o amor que salva e podem tornar-se anunciadoras de um mundo novo, já não dominado pela força, pela violência e pela agressividade, mas pelo amor, pela solidariedade, pelo acolhimento, um mundo novo transfigurado pela luz de Cristo, o Filho de Deus, que, para nós, homens, Se encarnou, foi crucifi-cado e ressuscitou [...] Depois do Calvário, a Cruz, abraçada com amor, torna-se o caminho da vida e ensina a todos que, se sabemos percorrer com abandono confiante o caminho cansativo e difícil do sofrimento humano, florescerá para nós e para nossos irmãos a alegria de Cristo vivo que supera qualquer desejo e expectativa” (João Paulo II, no dia 5 de janeiro de 2004). A Verdade do amor de Deus é incontestável. Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas que se abrem para acolhê-lo descobrirão o fio de ouro com o qual se tece a própria história, ligando fatos e acontecimentos. Abraão, o pai da fé, fiel a Deus até as últimas conseqüências (Gn 22,1- 18), é modelo da atitude a ser assumida diante da vida. Um índio do povo xerente, no estado do Tocantins, está trabalhando na tradução da “Bíblia da Criança” para o uso das aldeias de sua etnia, além de fazer ilustrações dos diversos trechos. Desenhando o episódio do sacrifício de Isaac, havia uma desproporção entre Abraão, Isaac, o altar e o carneiro que Abraão encontrou no meio dos espinhos. Diante da surpresa pelo tamanho do carneiro, a resposta foi muito simples: “Os dons de Deus são sempre maiores do que possamos imaginar!”. E o carneiro ficou maior do que os outros personagens da cena! A Misericórdia do Pai chegou ao extremo de entregar Seu próprio Filho (Rm 8,31-34), novo e definitivo Isaac, no qual temos a certeza da vida e da salvação. Certos do rumo de felicidade a que somos destinados, sejam quais forem nossas condições e as lutas a serem enfrentadas, temos a certeza da semente de vida eterna, plantada em nós no Batismo, passando, com Cristo, pela paixão e pela Cruz, até chegar à glória da Ressurreição (Mc 9,1-9).
Roteiro do retiro popular
O segundo domingo da quaresma
Dia 15 de março
Hoje é domingo O domingo é dia da alegria, por causa da Ressurreição do Senhor. Comece este domingo Diagramacao_Misericordia.indd 44 09.01.06 11:50:33 45 afastando todas as marcas da tristeza e superando sua origem, o pecado. É de São Francisco de Assis o pedido de perdão a Deus por ter deixado, num período de sua existência, habitar na casa da Alegria (e Deus é alegre!) a filha predileta do demônio, a tristeza!
Antes de sua oração de retiro, reze assim:
Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à Vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, e fechado a toda ambição mesquinha; dai-me um coração alheio a qualquer desprezível competição humana e compenetrado do sentido da Santa Igreja; dai-me um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao manso Coração do Senhor Jesus; dai-me um coração grande e generoso para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, todas as ofensas; dai-me um coração grande e humilde, até o sacrifício, quando necessário; um coração cuja felicidade seja palpitar com o Coração de Cristo e cumprir fielmente, corajosamente, toda a vontade do Pai celeste. Amém. (Paulo VI)
o roteiro da Leitura Orante da Palavra de Deus proposto neste Retiro Popular, há uma observação importante, que pede que você escolha um lugar adequado para fazer seu momento de oração. Sua criatividade pode ajudar a criar o clima e o espaço para a oração. Os textos propostos pela Igreja para o segundo domingo da Quaresma são os seguintes: Gn 22,1s.9a.10- 13.15-18; Rm 8,31b-34; Mc 9,2-10. Para concluir sua oração dominical de retiro, escolha um salmo, como se sugere no roteiro.
Caridade em ação
O gesto de caridade a ser feito durante a segunda semana da Quaresma é a descoberta dos grandes tesouros existentes nas pessoas portadoras de necessidades especiais. Você descobrirá como, quando se ama o próximo, o hoje é sempre melhor do que o ontem, e que o caminho que percorremos juntos é na direção da transfiguração.
A segunda semana da quaresma
O ensinamento da Igreja, para seu crescimento espiritual nesta semana, vem do servo de Deus João Paulo II, na encíclica sobre Deus, rico em Misericórdia (n. 4), que ensina:
“O amor, por natureza, exclui o ódio e o desejo do mal em relação àquele a quem alguma vez se deu a si mesmo como dom: ‘não aborreceis nada do que fizestes’. Tais palavras indicam o fundamento profundo da conexão entre a justiça e a misericórdia em Deus, nas suas relações com o homem e com o mundo. Dizem-nos também que devemos procurar as raízes vivificantes e as razões íntimas desse nexo, remontando ao ‘princípio’, no próprio mistério da criação. No contexto da Antiga Aliança, essas palavras preanunciam a plena revelação de Deus, que ‘é amor’. O mistério da criação está em conexão com o mistério da eleição, que de modo especial plasmou a história do povo cujo pai espiritual é Abraão, como mérito da sua fé. Por meio desse povo, que caminha através da história, tanto da Antiga como da Nova Aliança, aquele mistério de eleição refere-se a todos e a cada um dos homens e a toda a grande família humana. ‘Amo-te com amor eterno, por isso ainda te conservo os meus favores.’ ‘Ainda que os montes sejam abalados [...] o meu amor jamais se apartará de ti, e a minha aliança de paz não será alterada.’ Essa verdade, anunciada outrora a Israel, encerra em si a perspectiva de toda a história do homem, perspectiva que é simultaneamente temporal e escatológica. Cristo revela o Pai na mesma perspectiva, na perspectiva e no estado dos espíritos já preparados, como o demonstram numerosas páginas do Antigo Testamento. Como remate dessa revelação, na véspera da sua morte, diz ao apóstolo Filipe aquelas memoráveis palavras: ‘Há tanto tempo que estou convosco e não me conheces? [...] Quem me vê, vê o Pai’.”
Leitura orante da palavra de Deus
Quando você abre sua Bíblia e encontra, lá no final, as indicações das leituras da Sagrada Escritura na Liturgia da Igreja, certamente percebe a riqueza de textos indicados. Saiba que, com os diversos livros litúrgicos da Igre- Diagramacao_Misericordia.indd 48 09.01.06 11:50:33 49 ja, mais de 90% da Sagrada Escritura está à nossa disposição a cada três anos! E, se você faz também sua leitura e oração pessoais, pode avaliar os frutos que a Palavra produzirá em sua vida. Faça sua Leitura Orante com uma das leituras sugeridas para cada dia da segunda semana da Quaresma:
Dia 16 de março, Segunda-feira: 1a leitura: Dn 9,4b-10; Evangelho: Lc 6,36-38.
O Reino de Deus começa no dia em que Jesus anuncia que Deus é Pai misericordioso. Ele proclama a misericórdia e pede o mesmo dos discípulos. O perdão dado aos irmãos é fruto do amor de Deus que toca o coração do discípulo.
Dia 17 de março, terça-feira: 1a leitura: Is 1,10.16-20; Evangelho: Mt 23,1-12.
A Palavra nos pede que tiremos de nossa consciência tudo o que é iniqüidade. Que o Senhor realize em nós Sua obra de santificação e nos torne participantes dos bens que não passam.
Dia 18 de março, quarta-feira: 1a leitura: Jr 18,18-20; Evangelho: Mt 20,17-28.
Como Jesus, os discípulos não devem visar ao êxito, brigando entre si pelos primeiros lugares. Deverão buscar a vontade de Deus, pondo-se a serviço dos outros.
Dia 19 de março, quinta-feira: 1a leitura: Jr 17,5-20; Evangelho: Lc 16,19-31.
É sábia a pessoa que confia no Senhor, que pode realizar em nós coisas admiráveis. Abandonar- se, sem restrições, a Deus, crer com convicção em Sua Palavra, essa deverá ser nossa escolha de vida.
Dia 20 de março, sexta-feira: 1a leitura: Gn 37,3-4.12-13a.17b-28;
Evangelho: Mt 21,33- 43.45-46. A parábola que lemos traz consigo uma promessa. A pedra rejeitada é escolhida como pedra angular. A morte se torna caminho para uma nova vida. Dia 18 de março, sábado: 1a leitura: Mq 7,14-15.18-20; Evangelho: Lc 15,1-3.11-32.
“A herança que o jovem tinha recebido do pai era constituída por certa quantidade de bens materiais. Mas mais importante do que esses bens era a sua dignidade de filho na casa paterna. A situação em que veio a encontrar-se quando se viu sem os bens materiais que dissipara, é natural que o tivesse também feito cair na conta da perda dessa dignidade. Quando pediu ao pai que lhe desse a parte da herança que lhe tocava, para se ausentar para longe, não refletiu por certo nisso. Parece que nem mesmo agora está bem consciente dessa realidade, quando diz para si próprio: ‘Quantos empregados na casa de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome!’. Avalia-se a si mesmo pela medida dos bens que tinha perdido e que já ‘não possui’, enquanto os criados na casa de seu pai ‘continuam a possuí-los’. Essas palavras exprimem principalmente sua atitude perante os bens materiais. No entanto, por detrás delas esconde-se também o drama da dignidade perdida, a consciência da condição de filho malbaratada” (João Paulo II).
Oração final para cada dia
Meu Pai, entrego-me a Vós, fazei de mim o que for do Vosso agrado. O que quiserdes fazer de mim, eu Vos agradeço! Estou pronto para tudo, aceito tudo, desde que Vossa vontade se realize em mim, em todas as Vossas criaturas! Não desejo outra coisa, meu Deus. Deponho minha alma em Vossas mãos, eu Vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque Vos amo e porque para mim é uma necessidade de amor dar-me e entregar-me em Vossas mãos, sem medida, com uma confiança infinita, pois sois meu Pai (Carlos de Foucauld, beatificado em Roma no dia 13 de novembro de 2005). |
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